Conceitos Fundamentais em Psicanálise

O Desejo do Analista

O amor de transferência é pensado por Freud como uma repetição, mas, graças ao caminho que o analista tomará, esse amor terá um desenlace para o qual “a vida real não oferece modelos”. Lacan diferencia esse desejo da transferência. Recordemos que nos textos freudianos a transferência e o caminho que o analista toma não seguem a mesma direção.

Lacan diz que a transferência é o que separa a pulsão da demanda, e o desejo do analista é o que restabelece a relação suprimida. A transferência separa a demanda da pulsão, visto que a demanda amorosa se dirige ao ideal, desconhecendo as raízes pulsionais que a fundamentam.

A paciente não quer saber do setor afastado”, do resto, do sexual além do amor. Nesse ponto, o desejo do analista vai contra a transferência, porque reconduz a demanda à pulsão. O desejo do analista entra em consonância com a pulsão como realidade sexual do inconsciente.

O paradoxo da transferência é que, ao mesmo tempo que põe em ação a realidade sexual do inconsciente, repete o amor identificatório com que foi encoberto o ponto de encontro com o sexual. O desejo do analista não se deixa enganar pelo amor ou a agressão da resistência, que mantém a pulsão em uma forma de satisfação monótona, afastada, repetida. O desejo do analista libera a pulsão de seu destino espectral.

Não se trata de que o sujeito se libere das pulsões, mas, sim, de que elas se liberem do trajeto fixado. Por isso, para Freud, o determinante da cura está no destino das pulsões. Só se pode pensar em um novo destino entendendo-se de que forma o desejo do analista contraria o amor de transferência. A psicanálise não é uma cura por amor, porque o amor é uma resistência. O novo amor de que fala Lacan no fim do seminário não deve ser pensado como o amor na cura, mas como um efeito dela.

Fonte: Tudo O Que Você Precisa Saber Sobre Psicanálise – Silvia Ons
Páginas: 54 e 55