Textos para ler em 60 segundos

Recordações Encobridoras (1899)

Recordações Encobridoras (1899)

A idade a que remontam os conteúdos das mais antigas lembranças da infância é o período entre dois e quatro anos. O conteúdo mais frequente das primeiras lembranças infantis são as ocasiões de medo, vergonha, dor física, etc., e acontecimentos importantes tais como doenças, mortes, incêndios, nascimento de irmãos, etc.

Apresenta-se o caso de um homem de 38 anos, de instrução universitária, que se mudou aos três anos. Suas lembranças do primeiro local de residência recaem em três grupos.

O primeiro grupo consiste de cenas que lhe foram repetidas vezes descritas por seus pais. O segundo grupo compreende cenas que não lhe foram nem poderiam ter sido descritas. Os quadros e cenas dos dois primeiros grupos são provavelmente lembranças deslocadas, das quais o elemento essencial foi na sua maior parte omitido. No terceiro grupo se encontra um material que não pode ser compreendido. Dois conjuntos de fantasias foram projetados um sobre o outro e construiu-se, a partir deles, uma recordação de infância.

Uma recordação encobridora é aquela cujo valor reside no fato de representar na memória impressões e pensamentos de uma data mais tardia, cujo conteúdo é ligado ao conteúdo da recordação encobridora por um elo simbólico ou algo semelhante. O conceito de recordação encobridora deve seu valor de lembrança não ao seu próprio conteúdo e sim à relação que existe entre esse conteúdo e um outro, que foi recalcado.

Diferentes classes de recordações encobridoras podem ser distinguidas, de acordo com a natureza dessa relação. Uma recordação encobridora pode ser descrita como regressiva. Sempre que, numa recordação, o próprio individuo aparece como objeto entre outros objetos, o contraste entre o ego que age e o ego que recorda pode ser tomado como prova de que a impressão original sofreu uma elaboração.

Fonte: Sinopses das Obras de Freud.
Página 64